40 anos passados o sol de Abril esmoreceu e desvanece, em cada dia, um pouco mais.
40 anos passados, olhamos em volta e vemos um povo vergado, triste, cinzento, abúlico, caminhando a passos largos para um novo salazarismo, amorfo, apático, com a sua vontade gangrenada pelos cadernos de deve e haver em que nos transformaram.
40 anos passados o sonho de um País Livre e Independente desaparece. A independência já a perdemos, de facto se não de jure, e o País está a ser retalhado em talhões e vendido, a
pataco, por ajuste directo - porque até já nem a vergonha de
um concurso público é necessária.
40 anos passados, vivemos um quotidiano de desemprego, fome, miséria e desalento. Os jovens são "aconselhados" a emigrar enquanto se gasta dinheiro para "atraír" investigadores estrangeiros. Vivemos sob o diktat troikiano, com a receita FMIsta, aplicada desde há décadas sem alterações - a
não ser para agrilhoar mais os cidadãos de qualquer pobre País que se submeta às suas garras. Vivemos um presente doentio e apenas vemos um futuro agonizante.
40 anos passados, a nossa vivência diária, passa pelas filas de cidadãos nas "portas de abrigo", nos sacos de compras das associações de benemerência, levados para casa (quando temos casa) às escondidas, pela vergonha de ter que pedir pão, porque não temos trabalho para o ganhar, honradamente, com o suor do nosso rosto.
Temos as cantinas das escolas a funcionar nas férias, para que muitas crianças tenham, pelo menos, uma refeição por dia...
40 anos passados, precisamos urgentemente, de um novo 25 de Abril, precisamos urgentemente de um povo que se levante e tome o destino nas suas mãos. Que não se deixe embalar pelos fantoches, manobrados por bonecreiros sem nome.
40 anos passados, precisamos urgentemente, de um povo que não se submeta aos "mercados" que ninguém sabe o que são, aos "credores" que ninguém conhece, aos "investidores" sem rosto, que apenas olham para os números- como se as pessoas fossem números.
40 anos passados precisamos urgentemente, de força para nos erguer e - em uníssono - gritar: Basta!
E se a força nos faltar então que nos apoiemos nos ombros uns dos outros, para que a força de todos seja a força de cada um.
25 de Abril, SEMPRE!
Em 25 de Abril de 1974 as fotos eram a preto e branco, mas traziam a esperança da luz e da cor para a vida dos Portugueses.
Em 25 de Abril de 2014 as fotos são a cores, digitais e outras coisas mais, mas apenas trazem chuva, isolamento e deseperança. A cor está apenas nas fotos, já não está no coração dos Portugueses.
Em 25 de Abril de 2014 as fotos são a cores, digitais e outras coisas mais, mas apenas trazem chuva, isolamento e deseperança. A cor está apenas nas fotos, já não está no coração dos Portugueses.